O hipismo exige de seus praticantes (cavaleiros e amazonas) muito controle e disciplina, para que possam trabalhar suas técnicas de montaria. É nesse desenvolvimento básico que a equipe do Clube do Pônei da
Escola de Equitação da Sociedade Hípica Porto Alegrense (SHPA) têm seu foco. A Escola trabalha com crianças até seis anos.
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Thomas William e o aluno Mariano, em uma atividade que
proporciona equilíbrio e coordenação motora* |
Para o instrutor Thomas William - responsável pelo trabalho com os pôneis - essa etapa exige muita cautela, pois
a maioria dos alunos nunca tiveram contato com o animal. "Essa iniciação, não só na equitação, mas em tudo na vida, é de
extrema importância, porque se você iniciar errado, provavelmente vai terminar
errado, e aí terá de fazer o dobro de esforço pra tentar corrigir mais à
frente." Começar da maneira correta, é mais vantajoso e produtivo, tanto para o aluno como para o instrutor. É importante considerar as dificuldades
e censuras que as crianças têm ao natural, as quais podem se converter em
traumas posteriormente. Um dos métodos desenvolvidos pelo profissional
para que ocorra essa primeira aproximação é a solicitação de ajuda. "Às vezes a criança quer contato, mas não sabe ainda qual a melhor
maneira de se aproximar. Eu me aproximo do pônei e peço a ajuda dela para, por
exemplo, fazer carinho ou puxar o animal. Assim ela vai adquirindo segurança. É
da natureza do ser humano querer ajudar os outros, e uma das suas maiores
conquistas é o prazer de se sentir importante em diversas situações. Com base
nisso, eu desenvolvi esse método", explica ele.
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Da esq. p/ dir: Luisa, Eloisa, Isadora, Arthur e Alfredo*
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Incentivados pela madrinha e também pela necessidade de aprender a
montar corretamente, já que convivem com cavalos semanalmente, os pais de trigêmeos Eloisa e Alfredo Slawski
matricularam seus filhos no Clube do Pônei. A mãe conta que, desde o início das
aulas, percebeu que seus filhos, Isadora, Luisa e Arthur, de quatro anos, vêm se mostrando mais desinibidos e sociáveis.
"As crianças ficam cada dia mais eufóricas e participativas em relação às
aulas, desde a preparação para a saída de casa como no próprio horário de
aula", afirma. Para a família Slawski, a equitação é vista como "um
esporte que proporciona desenvolvimento de força, equilíbrio, segurança e
autoconfiança, além de ensinar os cuidados e respeito para com os
animais."
Já para Raquel Ourique Cairoli e seu
marido, Eduardo Tellechea Cairoli, a procura pela equitação foi motivada por
uma forte tradição familiar: Antonio Cairoli, filho do casal, com quatro anos de idade, já compõe a quarta geração de cavaleiros. Para ela, além de ser
uma forma de se conectar com suas raízes, o esporte - especialmente a equitação
- ensina diversos conceitos fundamentais para o desenvolvimento da criança,
como a disciplina e a capacidade de lidar com frustrações, além de adquirir confiança em si,
na equipe e no animal.
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Raquel e Antonio Cairoli* |
O
uso de pôneis para aulas com crianças de zero a seis
anos é proposital, principalmente devido a seu tamanho. Isso evita quedas mais
graves e aumenta a proximidade da criança com o animal - por ser proporcional a
ela. O diferencial das aulas em comparação às de jovens e adultos, é
principalmente o tom lúdico, que proporciona um ensino da equitação de uma
maneira descontraída. "Se formos tentar ensinar a pura equitação para
crianças dessa idade, duas coisas vão acontecer: elas vão odiar a aula e não vão
entender nada. A solução é passar a técnica como desafios, incentivando o aluno
a executar o que foi pedido e fazendo-o acreditar que é apenas uma brincadeira,
de maneira que prenda sua atenção e interesse." - acrescenta o instrutor.
Durante as aulas, são utilizados, dentre outros objetos, bambolês e bolas
infláveis, a partir dos quais as crianças adquirem equilíbrio e interagem com o
animal. A ideia, de acordo com o profissional, é fazer com que o aluno se
acostume com os movimentos do pônei, a estar em cima dele, sem que seja forçado
a isso.
Thomas comenta que a equitação vai muito além um esporte e que serve como desenvolvimento pessoal. "Isso na vida de uma criança é crucial, pois é o momento de formação do
caráter e da personalidade. E a equitação tem todo um envolvimento, uma paixão,
que vai desde respeito a responsabilidade, gratidão. São diversas as sensações
que são experimentadas,
desde prazer e alegria à tristeza e raiva. Todo dia é
um desafio, um trabalho diferente. É aprender que além de lidar com o
nosso
temperamento, temos que lidar com o do animal e nisso você acaba expondo o seu
íntimo, o seu interior". Nesse momento, ocorre uma aproximação do
instrutor com o aluno - o profissional definirá o próximo passo. "Para
mim, não tem prazer maior do que saber que você está tendo uma
fatia da personalidade de alguém, que este está se desenvolvendo a
partir de ti. E essa sensação, de estar contribuindo pra vida de uma
pessoa, não tem
preço", conclui.
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Thomas e aluna em um dos exercícios de equilíbrio durante
a aula* |
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A equitação é um dos poucos esportes em que se
pode começar a praticar com qualquer idade, mas quanto mais cedo, melhor. Além
disso, não há distinção de idade ou gênero: homens e mulheres, com as mais
variadas idades, competem na mesma categoria. De acordo com o instrutor, as aulas de equitação ajudam na postura, na
coordenação motora, aumentam a rapidez dos reflexos, desenvolvem a orientação espaço-temporal e colaboram
para o aspecto biopsicossocial. Ao desenrolar do tempo, as crianças criam segurança e,
na maioria dos casos, gosto pela prática. Muitas acabam por participar de
competições onde aprendem a lidar com a pressão e desempenham o espírito
esportivo.
* Todas as fotos são originais, de autoria de Valentina Rodrigues
Por
Valentina Rodrigues e Camila Pires